quarta-feira, 14 de março de 2012

O JORNALISMO AMBIENTAL E SUAS SÍNDROMES

O Jornalismo Ambiental brasileiro tem se caracterizado por algumas síndromes, equívocos formidáveis que têm impedido o cumprimento de suas inúmeras funções (informativa, pedagógica, de conscientização etc).
 
A primeira delas – a “síndrome do zoom ou do olhar vesgo” – tem a ver com o fechamento do foco da cobertura, a fragmentação que retira das notícias e reportagens ambientais a sua perspectiva inter e multidisciplinar. Esta síndrome é favorecida pelo processo acelerado de segmentação jornalística, concretamente a divisão de veículos em cadernos e editorias.
 
A redução da cobertura ambiental a um olhar (econômico, científico, político etc) tem sido um terreno fértil para leituras particulares e negativamente comprometidas sobre a questão ambiental e inclusive para a legitimação de conceitos absolutamente inadequados. Por este motivo, é fácil encontrar nos cadernos de economia expressões como defensivos agrícolas no lugar de agrotóxicos (que é o termo adequado porque estamos falando de veneno) ou mesmo a designação de plantação de eucaliptos como florestas, o que é uma aberração conceitual tendo em vista a redução de uma multidiversidade a uma monocultura.
 
A segunda delas – “a síndrome do muro alto” – diz respeito à tentativa de despolitização do debate ambiental pela desvinculação entre as vertentes técnica (comprometida com a perspectiva empresarial) e as demais vertentes (econômica, política e sócio-cultural). Na prática, ela situa a vertente técnica como a prioritária e busca desqualificar todos aqueles que vêem a questão ambiental a partir de um cenário mais abrangente. Ela respalda o discurso das elites e busca excluir os cidadãos comuns e mesmo determinados segmentos da sociedade civil do processo de tomada de decisões, defendendo a competência técnica como critério exclusivo de autoridade. Ela se manifesta nos editoriais dos grandes jornais (como o Estado de S. Paulo) que insiste em tornar o debate privativo de determinados grupos, como a CTNBio na decisão sobre a liberação de transgênicos, como se as pessoas ali reunidas fossem absolutamente isentas e se orientassem exclusivamente por critérios técnicos. Tem a ver, portanto, com uma visão vesga e ultrapassada que prefere contemplar e defender ainda a neutralidade da ciência e da tecnologia
 
Esta síndrome está associada a uma outra – a “lattelização das fontes”, ou seja o Jornalismo Ambiental tem priorizado (ou, o que é mais dramático, se reduzido a) fontes que dispõem de currículo acadêmico, produtores de conhecimento especializado e que, muitas vezes têm, por viés do olhar ou em muitos casos por má índole, se tornado cúmplices de corporações multinacionais que pregam o monopólio das sementes ou fazem a apologia dos insumos químicos ou agrotóxicos, cinicamente chamados de defensivos agrícolas.
 
            O protagonismo no jornalismo ambiental, como de resto em qualquer campo do jornalismo, não se limita ao pesquisador ou ao cientista, mas inclui, obrigatoriamente, os que estão fora dos muros da Academia (muitas vezes excluídos em virtude de uma situação social injusta), como o povo da floresta, o agricultor familiar, o cidadão da rua.
 
            O Jornalismo Ambiental, como o saber ambiental, não diz respeito apenas a questões complexas, que reclamam tecnologias de última geração, mas incorpora soluções simples, de dimensão local. Ele tem a ver com o dia-a-dia das pessoas e , na verdade, só faz sentido quando as inclui no debate, quando possibilita e promove a sua participação no processo de tomada de decisões. O Jornalismo Ambiental não pode, como tem acontecido com relativa freqüência, ser veículo dos vendedores de produtos e serviços, quase sempre antagônicos à idéia de proteção e de respeito à qualidade de vida.
 
A “síndrome Lattes” tem provocado, por extensão, a defesa da neutralidade, da objetividade, vinculando-se a uma lógica racionalista que repudia o debate político em seu sentido mais amplo e que propositadamente desconsidera a relação capital x trabalho. Respaldado nesta perspectiva, o Jornalismo Ambiental não admite a contradição insuperável, sobretudo se aceito o modelo em vigor, entre desenvolvimento econômico e meio ambiente. Traduz um sentimento reformista, advogado pelas grandes empresas poluidoras, que, de maneira hipócrita, fazem a apologia de medidas meramente cosméticas porque não podem (e não querem!) assumir uma proposta revolucionária. Como lembra o ditado popular, elas querem convencer-nos de que é possível fazer o omelete sem quebrar os ovos e vivem prescrevendo merthiolatte para a cura do câncer.
 
A quarta síndrome – a “ das indulgências verdes” – tem a ver com a adoção de uma postura hipócrita (cínica?) de determinadas empresas e profissionais que praticam o chamado “marketing verde” e que, repetidamente, buscam atingir dois objetivos: a) promover a “limpeza de imagem” de empresas predadoras (Monsanto, Bayer, Syngenta, Aracruz, Vale do Rio Doce, Souza Cruz etc) com slogans e campanhas publicitárias destinadas à manipulação da opinião pública; b) propor soluções cosméticas para a dramática questão ambiental, como o plantio de árvores para neutralizar emissões de carbono (visto como estímulo à manutenção do atual modelo insustentável), o discurso da reciclagem ( por exemplo de latinhas de alumínio) que acoberta o aumento brutal de produção e assim por diante.
 
            A expressão “indulgências verdes” aplicada à questão ambiental foi cunhada por Marcelo Leite, jornalista da Folha de S. Paulo, e apareceu no título de sua coluna publicada a 9 de setembro de 2007. Nela, o jornalista compara “as consciências recém-convertidas ao credo ambiental” que compram e vendem indulgências por meio da neutralização de carbono `a ação do “frade dominicano Johann Teztel que, em 1517, foi enviado à Alemanha para vender indulgências – uma espécie de letra de câmbio papal, com a qual se resgastavam na Casa do Tesouro do Mérito os pecados cometidos. Era pagar e ir para o céu”. Marcelo Leite postulava em sua coluna, com muita propriedade, o surgimento de um novo Lutero (Martinho Lutero se insurgiu contra a prática das indulgências verdes e comandou a Reforma) para “sacudir a igrejinha verde dos nossos tempos”.
 
A quinta síndrome (se aprofundarmos esta nossa reflexão certamente emergirão outras mais) é conhecida como a “síndrome da baleia encalhada” e tem a ver com a espetacularização da tragédia ambiental, com a procura do inusitado e do esotérico e o recurso ao sensacionalismo. O Jornalismo Ambiental se ressente desta perspectiva acrítica de veículos e jornalistas, que contempla as questões ambientais a partir de fatos isolados, de acidentes ambientais espetaculares, como os tsunamis, os vazamentos de óleo na Baía de Guanabara, matança de indígenas, incêndios incontroláveis de reservas florestais ou aniquilamento em massa da fauna (focas, pingüins, peixes etc). Esta síndrome significa uma cobertura estática, paralisante, do meio ambiente, como se fosse possível (e desejável) ver a questão ambiental isolada de sua dinâmica, de suas causas e, portanto, distante dos grandes interesses que a promovem e a sustentam.
 
            A “baleia encalhada” é certamente um flagrante trágico da degradação ambiental, mas os veículos vêem nela apenas uma forma plástica (?) de ilustrar as suas páginas e telas, sem investigar o fenômeno que a originou. O debate e a conscientização ambiental não podem limitar-se a um foto parada, ainda que colorida e de grande impacto, porque dependem de uma cobertura mais investigativa que busque enxergar além das imagens.
 
Estas síndromes decorrem de uma visão estreita, absolutamente equivocada, da cobertura ambiental e precisam ser superadas, sob pena de continuarem comprometendo o jornalismo ambiental. Para tanto, é fundamental que tomemos consciência do prejuízo que podem causar ao processo de produção jornalística que tem como objetivo principal a educação ambiental e a mobilização necessária em prol da qualidade de vida no planeta e, por conseqüência, a sobrevivência de todos nós.
 
Professor Wilson
www.blogdowilson.com.br 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DEUS - Segundo Baruch Spinoza - Filósofo holandês do século 17

Baruch Spinoza   
"Pára de ficar rezando e batendo no peito!
O que Eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubre, obscuros e frios que tu mesmo construiste e que acreditas ser Minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias.
Aí é que Eu Vivo e ai expresso Meu amor por ti.
Pára de Me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, nao Me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver Comigo. Se não podes Me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... nao Me encontrarás em nenhum livro!
Confia em Mim e deixa de Me pedir.
Tu vais Me dizer como fazer o Meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de Mim.
Eu nao te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo.
EU SOU PURO AMOR!
Pára de me pedir perdao.
Nao há nada a perdoar.
Sou Eu que de fiz.... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre arbitrio.
Como posso te culpar se respondes a algo que Eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu Sou que te fez?
Crês que Eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que nao se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei: essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e nao faças o que nao queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida nao é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
ESTA VIDA É O ÚNICO QUE HÁ AQUI E AGORA. E O ÚNICO QUE PRECISAS.
EU TE FIZ ABSOLUTAMENTE LIVRE!
Nao há pecados nem virturdes.
Ninguem leva um placar.
Ninguem leva um registro.
TU ÉS ABSOLUTAMENTE LIVRE PARA FAZER DA TUA VIDA UM CÉU OU UM INFERNO.
Nao te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se nao o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de EXISTIR. Assim se nao há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu nao vou perguntar se foste comportado ou nao. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste...
Do que mais gostaste?
O que aprendeste?
Pára de crer em Mim - crer é supor, advinhar, imaginar.
Eu nao quero que acredites em Mim.
Quero que ME SINTAS EM TI.
Quero que Me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho do mar.
Pára de Louvar-Me!
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu Seja?
Me aborrece e Me louvem.
Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relaçoes, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?
Expressa tua alegria.
Esse é o jeito de Me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre Mim.
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de MARAVILHAS!!!!
Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
NAO ME PROCURES FORA!
NAO ME ACHARÁS.
PROCURA-ME DENTRO... AÍ É QUE ESTOU, BATENDO EM TI."

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

IV CBJA – Desconstruir para construir novas pautas é desafio no jornalismo

Por Adriane Bertoglio Rodrigues, para a EcoAgência de Notícias Ambientais e Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental

“Nas ações mais simples reside a sustentabilidade”. A afirmação é de Andrea de Lima, editora da Revista Quanta, da editora Segmento, que participou do painel “As novas pautas da sustentabilidade”, mediado pelo jornalista Roberto Villar, e que aconteceu durante o IV Congresso de Jornalismo Ambiental, que se encerra neste sábado (19), na PUC-RJ. Ao afirmar não acreditar em novas pautas, Andrea defendeu a desconstrução e construção das ideias e dos indicadores, na busca do que está por trás dos eventos e mesmo das situações mais corriqueiras. “Precisamos elaborar pautas balizadas em indicadores, tornando qualquer fenômeno palatável e digerível a todos. Este é o grande desafio”, salientou, ao destacar a existência de novas agendas, como a Rio+20, “ainda pouco em pauta, apesar dos temas que serão debatidos e de como repercutirão”.
Sônia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da BM&F Bovespa, analisa que “as pautas estão dadas, só não percebe quem não está conectado com temas como a própria sustentabilidade”. Para ela, todo jornalista deve estudar, pesquisar e se manter atualizado no acompanhamento e cobertura das tendências. Ela diz resumir a sustentabilidade como uma mudança de mundo, uma transformação. “Nessa mudança de mundo, o consumismo, que foi sinônimo de status, se transforma em compras coletivas e em consumo colaborativo”, afirma, ao defender que “hoje, passamos da vantagem competitiva para criarmos condições para competir.
“Os relatórios socioambientais de empresas e instituições apresentam interessantes temas de pautas”, destaca o superintendente de Comunicação Corporativa do Itaú Unibanco, Paulo Marinho. Para ele, não há novas pautas, “apesar de a sustentabilidade oferecer várias dimensões, como a econômica, a social e a ambiental”. Outra pauta citada por Marinho é a de crédito socioambiental, “uma baita responsabilidade dos bancos, na liberação de recursos, em função dos impactos socioambientais”. Ele criticou a falta de profundidade na cobertura de fatos, defendendo que a imprensa, “acima de tudo, tem o papel de educar”.
O moderador Roberto Villar, ao encerrar o painel, salientou que colocar na pauta as políticas públicas também é uma forma de os jornalistas abordarem o tema da sustentabilidade, ampliando, com coerência, a atuação entre as mídias, sejam tradicionais ou sociais. Ter foco e gostar de onde está e do que faz também foram citados pelos painelistas como vantagens na cobertura das pautas de sustentabilidade.

Publicado originalmente no site: http://cbja-rio2011.com.br/1653/desconstruir-para-construir-novas-pautas-e-desafio-no-jornalismo.html

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O petróleo e o sangue

Fonte: www.maurosantayana.com


As mentiras continuam. Muhamad Jibril, primeiro ministro interino, mentiu descaradamente, ao afirmar que Kadafi fora morto em “fogo cruzado” dos rebeldes com tropas leais ao dirigente líbio. As imagens, divulgadas no mundo inteiro, mostram Kadafi ainda vivo, caminhando, levantando o braço, até ser derrubado a socos e pontapés, para ser, finalmente, assassinado. 


Por Mauro Santayana

Ao que parece, a Terra cobra, em sangue, o petróleo que é retirado de suas entranhas. Mas tem cobrado mal: não são os que os que consomem o óleo alucinadamente os que pagam a dívida para com o planeta, mas sim os que tiveram a maldição de o ter em abundância, como os paises árabes e muçulmanos. Todas as teorias – a defesa dos direitos humanos, da democracia, da civilização ocidental, e, até mesmo, do cristianismo – são ociosas para explicar a sangueira dos tempos modernos. No caso do Oriente Médio, a cobiça pelo petróleo, desde o início do século passado, tem sido a causa de todos os males.

As imagens divulgadas ontem, da prisão, da tortura e da morte do coronel Kadafi são semelhantes às da prisão, da farsa do julgamento, e da execução de Saddam Hussein. Da execução de Osama bin Laden ainda não conhecemos todas as imagens, mas é provável que um dia sejam divulgadas.

A biografia desses três homens é semelhante. Todos eles tiveram, em um tempo ou outro, as melhores relações com os países ocidentais, democráticos e cristãos. Em livro que será publicado nos próximos dias, a Sra. Condoleeza Rice confessou um certo fascínio por Kadafi, que a ela se referia como “minha princesa africana”. Hillary Clinton reagiu com interjeição de alegre surpresa, ao ver as imagens do trucidamento do coronel. Terça-feira, em Trípoli, ela disse claramente que Kadafi devia ser preso ou morto, imediatamente.

Osama bin Laden, como é sabido, foi sócio de Bush pai em negócios de petróleo. No Afeganistão se uniu à CIA e ao Pentágono, no trabalho político junto aos combatentes anti-soviéticos. Essas ligações devem ter influído no ódio de pai e filho ao combatente muçulmano.

O caso de Saddam é ainda mais significativo. O Iraque não podia ser considerado um país obscurantista. Ainda que não fosse democrático – e, segundo os indignados norte-americanos, tampouco há democracia nos Estados Unidos – era um regime tolerante, que dava relativa liberdade às mulheres, autorizadas a freqüentar as universidades e a usar trajes ocidentais, e não exercia perseguição aos não islamitas, tanto assim que o segundo homem do governo, Tariq Aziz, era cristão católico do rito caldeu.

Nessa cruzada disfarçada de conflito de civilizações, as mentiras foram as mais importantes armas dos Estados Unidos. Suspeita-se que todas elas decorram de uma mentira ainda maior: a de que o ataque às Torres Gêmeas de Nova Iorque tenha sido uma operação determinada por bin Laden. Que Saddam Hussein nada tinha a ver com isso, é hoje fora de dúvida.

Para justificar a invasão ao Iraque, os Estados Unidos apresentaram “provas” forjadas, como fotografias de caminhões e de galpões, como sendo de instalações nucleares. Afirmaram ao mundo, por Collin Powell e outros, que Saddam, além de desenvolver seu arsenal atômico, dispunha de outras armas de destruição em massa, como produtos químicos letais. O embaixador brasileiro José Maurício Bustani, então diretor da Organização das Nações Unidas para a Proibição de Armas Químicas, e conhecia a realidade iraquiana, sabia que se tratava de uma mentira, e tentava obter a adesão de Saddam ao tratado internacional contra as armas químicas – o que desmentiria as acusações americanas - foi destituído de seu cargo pelas pressões do governo Bush. Hoje, é o embaixador do Brasil em Paris.

A terceira peça do tabuleiro, a ser eliminada, foi o governante líbio. Ele fora declarado “limpo” pelos governos ocidentais, e privava da intimidade dos líderes norte-americanos e europeus. Caiu na esparrela de acreditar nisso, e enfrentou, ao mesmo tempo, os que o consideravam um renegado e os sedentos de seu petróleo e, por isso mesmo, sedentos de sangue.

Esses três casos são uma forte advertência aos países árabes que têm sido vassalos fiéis de Washington. Os príncipes da Arábia Saudita que se cuidem. O Paquistão, ao que parece, já está com suas barbas no molho.

E as mentiras continuam. Muhamad Jibril, que é o primeiro ministro interino e terá que vencer facções que lhe são contrárias, mentiu descaradamente, ao afirmar que Kadafi fora morto em “fogo cruzado” dos rebeldes com as tropas leais ao dirigente líbio. As imagens, divulgadas no mundo inteiro, mostram Kadafi ainda vivo, caminhando, levantando o braço, até ser derrubado a socos e pontapés, para ser, finalmente, assassinado.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

OBESIDADE MENTAL

O Prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001 o seu polêmico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada. É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente. ”
Segundo o autor, “a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono.
As pessoas se viciaram em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. ”
“Os ‘cozinheiros’ desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados ‘profissionais da informação’”.
“Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação. Os filmes se transformaram na pizza da sensatez.”
“O problema central está na família e na escola. ”
“Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase, a desagregação familiar, a permissividade e, não raro, a promiscuidade. Com uma ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular”.
Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado “Os abutres”, afirma:
“O jornalismo alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.”
O texto descreve como os “jornalistas e comunicadores em geral se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante”.
“Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega aos jornais.”
“O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve. Todos acham mais cômodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como “informação”.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um “cateto.”
Prossegue o autor:
“Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou “mico”. A arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce, entretanto, a pornografia, o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo.
Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma ‘idade das trevas’ e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. ”
“Trata-se, na realidade, de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, sutilmente, no espírito e na mente humana. O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.”
As pessoas não sabem mais nem quando estão sendo manipuladas ou como. É a “preguiça mental” que acompanha a “obesidade mental”.

fonte: orbum.com

terça-feira, 10 de maio de 2011

Código Florestal: você acredita na SBPC ou no Aldo Rebelo e Kátia Abreu?


A pressa é a inimiga da perfeição e, muitas vezes, tem sido utilizada para respaldar interesses particulares em detrimento do interesse público.

As farmacêuticas e as indústrias de biotecnologia pressionam governos e entidades reguladoras para que liberem o mais rápido possível os seus produtos, contemplando unicamente o lucro.

Construtoras e setores industriais organizam lobbies formidáveis para apressar a construção de hidrelétricas e usinas nucleares porque desejam incorporar novos bilhões de reais às suas receitas. E que se dane o meio ambiente e as populações tradicionais que terão sua vida e sua cultura destruídas.

Da mesma forma, se movimentam os ruralistas, capitaneados pelo “comunista” (este termo faz algum sentido hoje em dia?) Aldo Rebelo, para alterar com urgência o Código Florestal. Sob a alegação de proteger os pequenos agricultores, propõem mudanças dramáticas na legislação, sem qualquer apoio científico.

Calma lá, não é mais um jornalista, com viés ambiental (um radical verde como preferem rotular os defensores dos transgênicos e dos agrotóxicos) que está aqui a questionar o esforço de entidades, empresários e parlamentares para avançar sobre as nossas florestas ou o cerrado, mas a comunidade científica como um todo.

Livro divulgado no último 25 de abril, intitulado “O Código Florestal e a Ciência: contribuições para o Diálogo”, com a participação de uma dúzia de pesquisadores de peso, com o aval da SBPC-Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da ABC (Academia Brasileira de Ciências), evidencia os equívocos das alterações propostas para o Código Florestal.

O que há de errado nelas? Ora, elas se apóiam num argumento falacioso: a necessidade de mais, muitas terras para a expansão do agronegócio, a manutenção de erros seculares na relação com o meio ambiente e a redução irresponsável das chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs). Anistiam a ocupação de terras irregulares, o desmatamento descontrolado, a ganância de empresários inescrupulosos e a baixa produtividade de setores reconhecidamente predadores, como o da pecuária extensiva.

O Governo, que também se apressa para costurar um acordo, anda pra lá e pra cá como barata tonta, indo e voltando em suas propostas, como se quisesse, apesar da falta de controle sobre a situação, faturar com o resultado final. Em nome de um diálogo de surdos, pretende fechar um acordo que não interessa ao país.

A tese dos cientistas é: as alterações contrariam a ciência e não deveria haver pressa para corrigir um código que permanece inalterado há várias décadas. Por que não esperar dois anos, um tempo razoável, para que estudos definam os rumos melhores para estas mudanças?

Todo mundo está de acordo (ainda bem) que precisamos dar atenção à agropecuária, que ela é vital para a economia do país, mas é preciso ir devagar com o andor porque o “meio ambiente” é de barro. Não se pode fazer tudo de afogadilho porque os danos poderão, já a curto prazo, ser irreversíveis. Reduzir a APP, de 30 para 15 metros em rios de até 5 metros, como propõem os ruralistas, significa diminuir brutalmente a proteção vigente (que já não é adequada, convenhamos).

Como diz o povo, “muita calma nessa hora” porque o assunto é sério e não pode ficar a mercê de políticos comprometidos com determinados interesses. É importante estabelecer bases sólidas para este debate (ou diálogo) porque, caso contrário, estaremos decidindo uma questão fundamental para o futuro do país (quem sabe do planeta!) na base do voto, como tem sido a tônica em Brasília.

Vamos dar tempo ao tempo, adiando alterações e punições, desarmando os espíritos para que possamos, finalmente, com pesquisas, estudos fundamentados, tomarmos a decisão correta.

Os apressadinhos devem ouvir o que dizem as entidades científicas, abrindo mão de suas posições a priori e não embarcando numa canoa furada. O piloto da embarcação, sr. Aldo Rebelo, não exibe qualquer competência técnica para mantê-la firme e alguém tem de convencê-lo a não levar todos nós para o naufrágio.

Que se valorize a agropecuária mas sob a perspectiva da ciência e não da política partidária alinhada com interesses empresariais. Que, neste momento, sejamos mais Embrapa, mais ABC, mais SBPC, mais Ministério da Ciência e Tecnologia, e menos Kátia Abreu ou Aldo Rebelo.

Não se trata de fazer a apologia da ciência (ela tem legitimado também corporações e tiranos e não é a dona inquestionável da verdade) , mas, quando séria e comprometida com os interesses do país, ainda é a melhor conselheira. No caso do Código Florestal, é razoável ficar ao lado dela porque ela pode, com sabedoria, indicar o melhor caminho.

O resto é política no pior sentido, defesa de interesses corporativos no pior sentido, absoluta falta de inteligência ou compromisso público.

Professor Wilson

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Dia Nacional da Conservação do Solo


O solo é o  resultado de algumas mudanças que ocorrem nas rochas. Estas mudanças são bem lentas, sendo que as condições climáticas e a presença de seres vivos são os principais responsáveis por sua transformação.Instituída pela lei federal nº 7.876 em 13 de abril de 1989, no 15 de abril é comemorado o Dia Nacional da Conservação do Solo. Uma homenagem ao nascimento do americano Hugh Hammond Bennett, considerado o pai da conservação dos solos nos Estados Unidos e o primeiro responsável por esse tipo de serviço nos país.
Em Mato Grosso (campeão mundial em uso de agrotóxicos) ao longo dos anos, percebemos uma melhora significativa na conservação do solo no setor da agricultura, já que com a prática do plantio direto (onde não se revira o solo), a palhada da cultura colhida fica por cima. É uma proteção a mais na sua conservação.
Já com os pastos, uma matéria publicada em setembro de 2010 pelo SINTERP (Sindicato dos Trabalhadores da Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Publica de Mato Grosso), mostra uma grande preocupação por parte dos técnicos e ruralistas em criar um projeto para a correção do solo, com curva de nível, calagem e adubação.
Ao contrário do que muitos pensam, as pastagem por não ser reconhecida como uma cultura por boa parte dos pecuaristas, 80% delas no Brasil  (Yokoyama 1995) apresenta alto grau de degradação. Ao contrário do que muitos pensam, 80% das pastagens brasileiras (Yokoyama 1995) apresentam alto grau de degradação, isso acontece justamente por não serem reconhecidas como uma cultura por boa parte dos pecuaristas.
Enchentes nas cidades, quedas de barrancos, alagamentos e assoreamento dos rios são provocadas por falta de cuidados com o solo. Um exemplo simples em nosso cotidiano é o Rio Cuiabá o qual já foi palco de navegações de grandes navios, hoje, com o assoreamento, apenas pequenos barcos ousam a trafegar.
Devemos ter em mente que a proteção do solo é um trabalho contínuo. O Código Civil Brasileiro descreve: “Cada um de nós é responsável pelo prejuízo que causa à sociedade, quer por um ato, quer pela sua negligência”. Não podemos obrigar quem quer que seja a adotar práticas perante as quais o espírito e a mentalidade não se encontrem devidamente consciente.
Precisamos ficar atentos as condições ambientais e climáticas que vivemos, essas mudanças não são comuns, são provocadas pelos próprios atos sociais. A engenheira-agrônoma Ana Primavesi, pioneira no Brasil com o manejo ecológico do solo escreve: “O futuro do Brasil está ligado à sua terra. O manejo adequado de seus solos é a chave mágica para prosperidade e bem estar geral. A natureza em seus caprichos e mistérios condensa em pequenas coisas, o poder de dirigir as grandes; nas sutis, a potência de dominar as mais grosseiras; nas coisas simples, a capacidade de reger as complexas”.
Vamos comemorar esse dia refletindo a respeito do que verdadeiramente nos sustenta aqui na terra e sua importância para continuidade de nossa espécie. A natureza faz seu papel, nós, como fazemos parte desse processo, devemos nos adequar sem agredir.
Élvio dos Anjos – Jornalista Socioambiental e Gerente Social
Várzea Grande - MT