quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O MISTÉRIO DE MICAEL - No Irromper da Era de Micael

Rudolf Steiner

Até o século IX após o Mistério do Gólgota, o ser humano se posicionava de modo diverso perante os seus próprios pensamentos. Ele não tinha o sentimento de que ele próprio formava (produzia) os pensamentos que viviam em sua alma. Considerava os dádivas (inspirações) de um mundo espiritual. Mesmo quando tinha pensamentos sobre aquilo que percebia com os sentidos, estes pensamentos se lhe apresentavam como revelações do divino, o qual lhe falava a partir dos objetos sensoriais.
Quem tem percepções espirituais compreende este sentimento, pois toda vez que algo espiritualmente verdadeiro se revela (se transmite) à alma, não se terá jamais o sentimento de que, de um lado, existe a percepção espiritual e que, de outro, formamos nós mesmos, o pensamento para compreender esta percepção; o que ocorre é que o pensamento é visto na percepção; contido nela; sendo um dado tão objetivo quanto o da própria percepção.
Com o século IX (tratam se obviamente de indicações médias do tempo; a passagem se dá de maneira gradativa) a inteligência pessoal individual passa a brilhar na alma humana. 0 ser humano passou a ter o seguinte sentimento: eu mesmo formo (produzo) os pensamentos. E esta atividade de formar os pensamentos se tornou o elemento preponderante da vida anímica, fazendo com que os pensadores vissem no comportamento inteligente a essência (Wesen) da alma humana. Anteriormente se tinha uma representação imaginativa da alma. A essência dela não era vista na atividade de produção de pensamentos, mas na sua participação no conteúdo espiritual do mundo. Os seres espirituais supra-sensíveis eram pensados como seres pensantes; e eles vêm atuando para dentro do ser humano, eles também vêm pensando "para dentro" dele. Aquela parte do mundo espiritual que vive no ser humano era sentida como sendo a alma.

Ao penetrar o mundo espiritual com a própria visão, o ser humano é confrontado com poderes essenciais espirituais concretos. Antigas doutrinas designavam com o nome Micael aquela força a partir da qual emanavam (fluíam) os pensamentos das coisas. 0 nome pode ser mantido. Pode se então dizer que inicialmente os seres humanos receberam os pensamentos de Micael. Micael administrava a inteligência cósmica. A partir do século IX os seres humanos não sentem mais que os pensamentos lhes são inspirados por Micael. Eles escaparam do seu domínio e caíram do mundo espiritual para dentro das almas individuais.
A vida dos pensamentos, a partir de então, foi desenvolvida no âmbito da Humanidade. Não havia segurança a respeito do significado do pensamento. Esta insegurança vivia nas doutrinas escolásticas. Os escolásticos se dividiram em realistas e nominalistas. Os realistas   liderados por Tomás de Aquino e seus próximos   ainda sentiam o antigo vínculo entre pensamento e coisa. Portanto, viam o pensamento como algo real que vive nas coisas. Eles viam os pensamentos como algo real que flui das coisas para dentro da alma. Os nominalistas sentiam fortemente o fato de a alma ser aquela que forma (produz) os pensamentos. Sentiam que os pensamentos eram apenas algo subjetivo que vive na alma e nada têm a ver com as coisas. Os pensamentos eram vistos apenas como nomes produzidos pelo ser humano para designar coisas (não se falava sobre "pensamentos", apenas sobre "universalias"; mas quanto ao princípio do que estamos expondo, isto não vem ao caso, pois pensamentos têm sempre algo de universal em relação às respectivas coisas individuais).
Pode se dizer que os realistas queriam manter a fidelidade a Micael; e como os pensamentos haviam caído de seu domínio para o dos homens, eles, como pensadores, queriam servir a Micael como o senhor da inteligência do cosmo. Em sua parte inconsciente da alma os nominalistas se afastarem de Micael. Para eles o ser humano era dono dos pensamentos e não Micael. 0 nominalismo se expandiu, aumentou sua influência e pôde continuar desta maneira até o último terço do século XIX. As pessoas que, nesta época tinham a possibilidade de perceber os acontecimentos no âmbito do cosmo, sentiam que Micael havia seguido a corrente da vida intelectual. Ele busca uma nova metamorfose da sua incumbência cósmica. Anteriormente, ele deixava fluir os pensamentos para dentro das almas humanas a partir do mundo espiritual externo. Desde o último terço do século XIX ele quer viver nas almas humanas nas quais se formam (produzem) os pensamentos. As almas "aparentadas" com Micael viam no, anteriormente, desenvolver suas atividades no âmbito espiritual; agora elas reconhecem que devem deixá lo viver em seus corações e lhe dedicam a sua vida espiritual baseada nos pensamentos; agora, a partir de seus pensamentos individuais e livres, estas almas deixam que Micael lhes ensine a trilhar os caminhos verdadeiros da alma.
Os homens que na vida terrestre anterior viveram em pensamentos inspirados e que, portanto, eram servidores de Micael, ao voltarem a Terra para uma nova encarnação no final do século XIX sentiam se impelidos à formação desta comunidade micaélica livre. Elas agora consideravam o seu antigo inspirador de pensamentos como sendo o indicador de rumo, no âmbito dos pensamentos superiores.
Aqueles que sabem levar em conta estas coisas podem saber o significado que teve esta reviravolta no final do século XIX, com relação aos pensamentos dos seres humanos. Anteriormente o ser humano podia apenas sentir como os pensamentos se formavam, a partir de seu próprio ser. A partir da época mencionada, o ser humano pode erguer se acima de si mesmo, ele pode voltar a sua percepção (atenção) para o âmbito espiritual, onde Micael se lhe aproxima mostrando se, já desde longa data, familiarizado com todo o tecer dos pensamentos. Ele liberta o pensar do âmbito da cabeça e lhe abre o caminho para o coração; ele liberta a capacidade de entusiasmo do âmbito dos sentimentos, fazendo com que o ser humano possa viver com dedicação anímica para com tudo que pode ser experimentado no âmbito da luz dos pensamentos. A era de Micael irrompeu. Os corações começam a ter pensamentos; o entusiasmo não provém mais apenas da escuridão mística, mas da clareza anímica sustentada por pensamentos. Compreender isto significa acolher Micael na índole. Os pensamentos que hoje almejam abarcar o espiritual devem partir de corações que batem por Micael como o senhor ígneo dos pensamentos cósmicos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Não há emoção no Estado

Época de eleição é época de desvarios. A razão costuma entrar em férias e a sensibilidade fica à flor da pele. Em família e no trabalho, no clube e na igreja, todos manifestam opiniões sobre articulações políticas e candidatos.  
O tom varia do palavrão a desqualificar toda a árvore genealógica do candidato à veneração acrítica de quem o julga perfeito. A língua se espicha em sete léguas para difamar ou louvar políticos. Marido briga com a mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que possui a melhor análise sobre os candidatos. E todos parecem ignorar que vivemos numa relativa democracia em que reina a diversidade de forças políticas, embora impere a ideologia das elites dominantes. 
Há um terceiro grupo que insiste em se manter indiferente ao período eleitoral, embora não o consiga em relação aos candidatos, todos eles considerados corruptos, mentirosos, aproveitadores e/ou demagogos. Haja coração!
O problema é que não há saída: estamos todos sujeitos ao Estado. E este é governado pelo partido vitorioso nas eleições. Portanto, ficar indiferente é uma forma de passar cheque em branco, assinado e de valor ilimitado, a quem governa. E tanto o governo quanto o Estado, com o perdão da redundância, são absolutamente indiferentes à nossa indiferença e aos nossos protestos individuais. 
É compreensível uma pessoa não gostar de ópera, jiló, viagem de avião ou da cor marrom. E mesmo de política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa existência, do primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com política. 
Já a classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país. Houvesse menos injustiça e mais partilha dos bens da terra e dos frutos do trabalho humano, ninguém nasceria entre a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social em que veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. Nossa condição social de origem resulta de mero acaso. E não deveria ser considerado privilégio por quem nasceu nas classes média e rica, e sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte. 
Somos ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro vai parar no Ministério da Justiça. Vacinados, vamos ao Ministério da Saúde; ao ingressar na escola, ao da Educação; ao arranjar emprego, ao do Trabalho; ao tirar carteira de motorista, ao das Cidades; ao aposentar-se, ao da Previdência Social; ao morrer, retornamos ao Ministério da Justiça. E nossas condições de vida, como renda e alimentação, dependem dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, e do modo como o Banco Central administra a moeda nacional e o sistema financeiro.
Em tudo há política. Para o bem ou para o mal. Posso não saber o que a política tem a ver com a conta do supermercado ou o valor da matrícula escolar. Muitos ignoram que a política se faz presente até no calendário. Não que determine as estações do ano, embora tenha tudo a ver com os efeitos, como inundações, secas e desabamentos. Já reparou que dezembro, o último mês do ano, deriva de dez? Novembro de nove, outubro de oito, setembro de sete?
Outrora o ano era de dez meses. O imperador Júlio César decidiu acrescentar um mês em sua homenagem. Assim nasceu julho. Seu sucessor, Augusto, não quis ficar atrás. Criou agosto. Como os meses se sucedem na alternância 31/30, Augusto não admitiu que seu mês tivesse menos dias que o do antecessor. Obrigou os astrônomos da corte a equipararem agosto e julho em 31 dias. Eles não se fizeram de rogados: arrancaram um dia de fevereiro e resolveram a questão.
O Brasil será, a partir de 1º de janeiro de 2011, o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou para pior. E os que irão governá-lo serão escolhidos pelo voto de cada um de nós. E graças aos impostos que pagamos eles irão administrar – bem ou mal – os bilhões arrecadados pelo fisco, incluídos os salários dos políticos e o custo de seus gabinetes e respectivas mordomias.
Faça como o Estado: deixe de lado a emoção e pense com a razão. As instituições públicas não têm vida própria. São movidas por políticos e pessoas indicadas por eles. Todos esses funcionários públicos, a começar do presidente da República, são nossos empregados. A nós devem prestar contas. Temos o direito de cobrar, exigir, pressionar, reivindicar, e eles o dever de comprovar como respondem às nossas expectativas.
Convença-se disto: a autoridade é a sociedade civil. Exerça-a. Não dê seu voto a corruptos nem se deixe enganar pela propaganda eleitoral. Vote no seu futuro. Vote na justiça social, no direito dos pobres à dignidade, na soberania nacional. 

Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros.
Website:http://www.freibetto.org
Twitter: @freibetto

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A transferência de Renda

Vivemos em um mundo cercado por desigualdades sociais. Enquanto uns comemoram safras recordes de grãos, tornando o estado líder absoluto no Brasil, outros buscam no governo alternativas de subsistência que chegam até eles na forma de “transferência de renda”. Bolsa Família, bolsa PETI, Projovem Urbano são alguns dos programas que fazem essa distribuição.
Ao contrário do que pensamos, esses benefícios são concedidos mediante o cumprimento de obrigações que chamamos de condicionalidades.  Ao se cadastrar em um desses serviços, a família passa a ter de cumprir tarefas relacionadas à educação e saúde. Todos que têm filhos devem apresentar comprovante da matrícula (atestado escolar) e cartão de vacinação. Periodicamente (pelo menos a cada 2 meses) o governo fiscaliza, através da freqüência escolar enviada pelas escolas e da ficha de saúde fornecida por meio do sistema Sisvan (Sistema de Vigilância e Acompanhamento Nutricional), se as famílias cumprem essas questões, caso positivo, continuam recebendo o benefício.
Para saber mais a respeito da condição socioeconômica da família, anualmente é feito a atualização no cadastro, aplicando novas informações, detectando se houve uma melhora significativa de vida.
Distribuindo renda, cobrando educação e saúde, a família aumenta seu senso crítico, aflora a consciência para a busca de seus direitos. Não adianta fecharmos os olhos para desigualdade, é só olharmos a nossa volta. 
Programas e serviços complementares têm o objetivo de absorver essa demanda, implementando políticas públicas.  Centros de Referencia de Assistência Social (Cras) são instalados em bairros periféricos afim de atender a população mais vulnerável.
O Brasil caminha para “o seu momento” dentro do cenário mundial. Ações são feitas. Cabe a nós conhecermos, divulgarmos e cobrarmos. Infelizmente ainda existem pessoas que não têm acesso a direitos mínimos. Esses programas e serviços entram para tentar amenizar a situação. Não cabe a nós julgarmos se é certo ou errado a transferência de renda no Brasil. O que nos cabe é, sim, eleger com seriedade nossos governantes para que no futuro não haja necessidade de uma “bolsa X e um programa Y”.

Élvio dos Anjos  - Estudante de jornalismo, tecnólogo em desenvolvimento de sistemas, designer gráfico, projetista e gerente social.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Por que o blog se chama Meninos Verdes?

Que todos tenham um dia iluminado! Viva Primavera!

Muita gente me perguntou porque o nome do blog é "Meninos Verdes". Para responder este questionamento, resolvi colocar a sinopse do livro infantil da autora Cora Coralina, a qual tenho uma profunda admiração. No relato vocês perceberão que a escolha do nome nao é um acaso, existe um fundo ideológico, espiritual e moral por trás.

A partir de duas plantas diferentes, no quintal da Casa Velha da Ponte, surgem criaturinhas estranhas. Como lidar com o diferente, com o novo? A escritora Cora Coralina, com a metáfora - os meninos verdes -, ajuda-nos a refletir sobre isso. Vovó Cora conta a seus netos o que ela chama de acontecido e não de uma história. De repente, seu Vicente, o jardineiro da Casa Velha da Ponte, deparou com uma situação incomum: no quintal, entre as plantas que nascem lá, boas e más, apareceram duas plantas diferentes. Quis arrancá-las, mas vovó Cora disse-lhe que as deixasse crescer. Depois de um tempo, sob as duas plantas, seu Vicente e vovó Cora, surpresos, encontraram seres vivos, com todas as formas de crianças em miniatura. O que fazer? Destruí-los? Escondê-los? Cuidar deles? A postura sem preconceito e compromissada de vovó Cora em relação à estranha realidade nos ensina a encarar com naturalidade situações inusitadas, a respeitar diferenças e a agir com responsabilidade e consciência.


Bem, acho que a leitura acima ja mostra o que queremos com a criação deste espaço. Agora, vamos conhecer um pouco sobre Cora Coralina?


Cora Coralina nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto, na cidade de Goiás, em 1889. Iniciou sua carreira literária aos 14 anos publicando o conto "Tragédia na Roça". Casou-se com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Brêtas e teve seis filhos. O casamento a afastou de Goiás por 45 anos. Ao voltar às suas origens, viúva, iniciou uma nova atividade, a de doceira. Além de fazer seus doces, nas horas vagas ou entre panelas e fogão, Aninha, como também era chamada, escreveu a maioria de seus versos. Aos 76 anos despontou na literatura brasileira como uma de suas maiores expressões na poesia moderna. Em 1982 - mesmo tendo estudado somente até o equivalente ao 2º ano do Ensino Fundamental - recebeu o título de doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás e o Prêmio Intelectual do Ano, sendo, então, a primeira mulher a receber o troféu Juca Pato. No ano seguinte foi reconhecida como Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO. Morreu em Goiânia, aos 95 anos, em 1985.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A mentalidade predadora do Projeto do Código Florestal

Duas qualificações têm sido utilizadas para caracterizar as mudanças propostas pelo relator Aldo Rebelo, um comunista com viés de ruralista (que chegou a contratar para assessorá-lo uma consultora do agronegócio, como denunciaram a Folha de S. Paulo e o conservador Estadão), para o Código Florestal: flexibilidade e irresponsabilidade.
O conceito de flexibilidade tem sido apropriado por aqueles que desejam continuar descumprindo as regras de proteção do meio ambiente e que buscam ou brechas para o desmatamento futuro, legalizado pelo projeto, ou anistia para a ação predatória realizada por anos a fio.  Na prática, ele foi contemplado regiamente pela proposta apresentada à Comissão Especial da Câmara dos Deputados no último dia 8 de junho e que, de imediato, provocou reação violenta dos ambientalistas, como era de se esperar.
O conceito de irresponsabilidade está associado à intenção do projeto que, sob a alegação de proteger os pequenos agricultores, sinaliza para uma autorização legal para que todos, sobretudo os grandes, deixem de preservar áreas protegidas, anistia os desmatadores contumazes e inclui outros pacotes de bondades que envergonham os que acreditam no compromisso do País e dos empresários com a sustentabilidade.
A redução de 30 metros para 7,5 metros da proteção mínima nas margens dos rios, as moratórias para novos cortes, as exceções previstas para lavouras em encostas e, particulamente, a municipalização ou estadualização da legislação comprometem qualquer esforço para uma política consistente, legítima para a proteção do meio ambiente no Brasil.
A idéia subjacente ao projeto é garantir que, em cada Estado ou município, lobbies e poderes locais possam decidir o que será feito e, nesse caso, como todos sabemos, prevalecerão interesses econômicos porque não é novidade que empresas e produtores estarão atuando firmemente para que os seus privilégios sejam preservados. Há numerosos  recantos nesse País onde imperam os caciques políticos (que são também os que detêm o poder econômico), como se pode perceber no Maranhão, em Alagoas e por aí afora, com famílias que mantêm estados e cidadãos sob seu jugo.
È forçoso reconhecer que governos anteriores estimularam o desmatamento, atraindo, irresponsavelmente, para a ocupação da floresta , e ordenando explicitamente a sua destruição. É razoável considerar que algumas culturas (e pequenos produtores) são dependentes de determinadas circunstâncias que, numa visão moderna, atentam contra a sustentabilidade. É até importante lembrar (mas sem a visão generalizante do Aldo Rebelo e de ruralistas que o subsidiam) que existem ONGs que não servem para coisa alguma e que estão apenas empenhadas em captar recursos para os seus diretores.
Mas, pera aí, muita calma nessa hora, vamos devagar com o andor que o santo é de barro. Tem, como se diz na minha querida Ribeirão Preto, gato na tuba.
Em primeiro lugar, se cometemos erros no passado (e o mundo todo cometeu, destruindo os recursos naturais) nada justifica que devemos manter permanentemente esta atitude predatória e todos, de uma forma ou de outra, teremos que colaborar para superar o impasse ambiental. Governos com visão estreita (e temos tido demais por aqui, não é mesmo?) e pequenos produtores vão ter que se alinhar a um novo paradigma, porque a realidade é incontestável: se destruirmos água, ar, solo, não há chance para a perpetuação dos negócios num futuro próximo. Finalmente, o fato de algumas ONGs só estarem atrapalhando nesta hora (tem ONG de conservação que fez parceria - veja só - com uma empresa de transgênicos e agrotóxica porque, no fundo, a grana fala mais alto do que o compromisso) não autoriza ninguém (muito menos o Aldo Rabelo e a bancada do agronegócio) a demonizar todas as organizações que integram o Terceiro Setor. Respeitemos o Greenpeace, a WWF, a SOS Mata Atlântica, o IBASE, o IDEC, os jornalistas ambientais deste País e entidades que não compactuam com esta irresponsabilidade generalizada sob o pretexto de proteger a produção.
A leitura pela imprensa da nova proposta não foi unânime, muito pelo contrário. O Estadão (que tem raízes sólidas no mundo da produção agrícola)  prega o discurso da reconciliação e acredita que a maior parte das propostas é realista e razoável (vide seu editorial de 10 de junho). Já a Folha de S. Paulo foi contundente no editorial do mesmo dia: "relatório de Aldo Rebelo alia atraso ruralista a nacionalismo antiquado para desmontar legislação que protege florestas". Enfim, e isso é um alerta para os que ainda pregam a objetividade no jornalismo, mesmo na mídia os interesses definem as posições e os compromissos. Os editoriais explicitam a ideologia empresarial, ainda que as reportagens possam contradizer o patrão (na editoria de meio ambiente do Estadão, o tom foi menos adesista e incluiu, no  dia 11 de junho, comentário de Afra Balazina, enviada especial a  Bonn, Alemanha, contrário à proposta do Código Florestal).
Estaremos  assistindo, nos próximos dias ou meses (há parlamentares que já decidiram fazer o possível e o impossível para impedir que esta proposta vingue como está) o recrudescimento deste embate, sobretudo com o aprofundamento do debate eleitoral. Marina Silva certamente não perderá a oportunidade para desbancar a proposta (e faz muito bem, com coerência e legitimidade) que tem muito dos interesses ruralistas e também da "cultura desenvolvimentista" do Governo (e do que sucedeu a Lula também), que tem se rendido a lobbies formidáveis (montadoras, mineradoras, fabricantes de papel e celulose, agroquímicas etc) porque não consegue enxergar além de 4 ou 8 anos no máximo, tempo de seu plantão presidencial em Brasília.
O que cabe a todos nós? Acompanhar atentamente a tramitação do Projeto, repudiar toda e qualquer iniciativa que signifique a manutenção do desmatamento, a destruição dos nossos recursos florestais e a preservação de privilégios dos grandes produtores e exportadores, empresas de insumos agrícolas e de poderosos proprietários de terras.
Espera-se que a imprensa não fique refém das fontes empresariais ou oficiais e que paute a cobertura pelo pluralismo, sem estigmatizar os movimentos sociais, os grupos organizados e as legítimas organizações do Terceiro Setor que têm impedido que os abusos se tornem maiores do que já estão.
A proposta do novo Código Florestal é, como diz a Folha, um retrocesso. Se não houver oposição firme, competente, ela será aprovada e penalizará definitivamente o País.
Respeitemos a produção sustentável, os empresários comprometidos com a manutenção dos recursos naturais, os pequenos produtores que precisam ter alternativas e efetivamente desfrutar da nossa boa vontade. Mas não aceitemos que interesses excusos, patrocínios espúrios se aproveitem de uma situação que aí está para aumentar os seus lucros, o seu poder sobre a terra brasileira.
Da minha parte, espero também que a aliança de um deputado comunista com uma bancada ruralista não se reverta em votos nas próximas eleições. Que todos aqueles comprometidos com o meio ambiente saibam dizer não a estas parceiras e votem pela sustentabilidade. Aldo Rebelo escolheu o seu lado e tem todo o direito de fazer isso.  Muitos de nós , que já o elegemos outras vezes, temos o direito de divergir desta postura e de buscar outras alternativas. Diga não ao desmatamento do Código Florestal e vote pela sustentabilidade. Talvez o Congresso nos escute (anda surdo como pedra!) da próxima vez.

Wilson é jornalista e professor universitário (USP e UMESP) - www.blogdowilson.com.br

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dependência Química Progressiva: Ilusão ou calamidade?

Acende, puxa, prende, passa! E como passa. Todos os dias centenas de adolescentes, jovens e adultos entram para um grupo social que se titula como adictos ou dependentes químicos. Na verdade não temos como definir certamente o que é um adicto, o que sabemos para quem entra no mundo das drogas e inicia a fase de despertar da consciência admitindo sua impotência diante da situação do vício é um adicto.
De acordo com a Narcóticos Anônimos, existem pelo menos três tipos de usuários de drogas em que todos em potencial podem chegar a dependência: a) O usuário leve – através de influências de amigos, brincadeiras, farras, entra no que chamamos de “curtição”, mas quando chega a responsabilidade, consegue assumir e enfrentar todas adversidades; b) O dependente psicológico – tem efetivamente alguma dependência. A carência afetiva e depressão são alguns dos fatores que podem levar o usuário desta classe ao vício;  c) Dependente químico ou adicto - a Narcóticos Anônimos definiu “adicto”  como dependente químico progressivo, incurável, que sofre compulsão não deixando mais a droga sair de sua vida.
Estamos cercados por influências, a todo momento, em todo lugar. Televisão,  internet, jornais, revistas,  a maioria dos veículos de comunicação nos remete a um mundo de ilusão, em que  obter determinado produto nos trás prazer e autoestima. A história das drogas entrou no mundo e no conhecimento humano através de ilusões, afirmações falsas de felicidade. O ópio que foi motivo de guerra da China com a Inglaterra no século XVII. A cocaína, considerada a droga social consumida por artistas, cientistas, políticos, padres, etc. Até Sigmund Freud, considerado o Pai da psicanálise, fazia o uso de cocaína querendo provar a energia e vitalidade produzida pela droga. O LSD-25, descoberto acidentalmente pelo cientista suíço Hoffman, que ingeriu uma pequena quantidade da droga, inicialmente era utilizado para tratamento de doenças mentais. Hoje, é muito consumido em festas de músicas eletrônicas.
O que percebemos é que essas drogas entraram na humanidade por modismo e ilusão de que “é bom e agradável estar na sintonia que ela proporciona”.  A desmotivação e a dependência física, psicológica que ela agrega a quem a usa só começaram a ser alertadas abertamente há menos de 20 anos.
Grupos organizados da sociedade, como entidades filantrópicas, igrejas e clubes de serviços, tentam com muito custo resgatar pessoas que estão na situação. Percebemos a falta de estrutura e de preparo por parte dos governantes em lidar com o adicto, porque, na maioria das vezes, os mesmos se enquadram em uma das classificações de usuários já ditas anteriormente.
A dependência química agregada ao tráfico de drogas já corresponde a maioria dos furtos, assaltos, assassinatos e prisões feitas no Brasil. Legalizar, combater ou discutir? O fato é que a adicção é uma doença que necessita de um tratamento sério e precisa de mudanças no seu combate para que isso não vire uma epidemia ou calamidade. 
Élvio dos Anjos  - Estudante de jornalismo, tecnólogo em desenvolvimento de sistemas, designer gráfico, projetista e gerente social.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

E os olhos doem! Será conjuntivite?

Amanheceu, é um novo dia! Abro os olhos – o que é isso? Tem um quilo de areia dentro do meu olho, não consigo nem piscar direito. Corro pro espelho e o diagnóstico: conjuntivite.
Neste ano, só no estado do Rio de Janeiro, mais de 16 mil pessoas foram contaminadas por essa doença. A conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva, pra ser mais claro, é aquela parte branca dos olhos e o interior das pálpebras, contamina os dois olhos e pode durar até 15 dias o seu ciclo. 
 Geralmente as pessoas pegam conjuntivite em várias situações: a) bactéria ou vírus; b) poluição do ar, sabonete, spray, maquiagem, produtos de limpeza, etc; c) alérgica (alergias a polens).
O contato direto ainda é o principal transmissor. Mãos, toalhas, cosméticos, entre outros, são alguns dos meios que passam o vírus adiante. É muito comum dentro do seio familiar a contaminação.
- Será mesmo? É conjuntivite? – Abro a janela e os raios solares machucam meus olhos.
Existem vários sintomas presentes na conjuntivite: coceira, olhos lacrimejando e avermelhados em excesso, visão embaçada, sensível a claridade, inchaço das pálpebras e ainda podem ocorrer dores de cabeça, mal-estar e inflamação dos gânglios.
- Vendo esses sintomas, acho que estou mesmo com esse vírus. Mas, como as pessoas podem prevenir dessa bactéria viral?
Os  cuidados com a higiene devem ser rigorosos; lavar as mãos mantendo-as sempre limpas; não compartilhar travesseiros, toalhas, sabonetes, óculos e qualquer outro objeto de limpeza. Se tiver sido contaminado, evitar ambientes coletivos como shoppings, cinemas, piscinas, etc.
- O jeito é me cuidar e evitar a transmissão a outras pessoas. Com o tempo seco e a baixa umidade do ar, fica mais fácil a proliferação do vírus.
Lembrando que a conjuntivite não tem tratamento, remédio ou vacina. O único meio de combater a doença ainda é a prevenção.
Élvio dos Anjos  - Estudante de jornalismo, tecnólogo em desenvolvimento de sistemas, designer gráfico, projetista e gerente social.

Referência bibliográfica:
· Barza, Michael(ed); Baum, Jules(ed); Moellering, Robert(ed). Ocular infections / Ocular infections Philadelphia; W.B. Saunders; Dec. 1992. 769-1003 p. ilus. (Infectious Disease Clinics of North America, 6, 4).